domingo, 5 de julho de 2009

LUTO

Por mim, pelo Clube Académico de Coimbra, pela Associação Académica de Coimbra- OAF e pela Associação Académica de Coimbra,
por esta ordem,
que foi pela qual eu conheci o Vasco Gervásio,
para mim,
o maior academista do meu "tempo".

(amanhã edito uma fotografia adequada)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Discurso anti discursos ou a cotação da acção a subir e a da palavra a descer


"Várias vezes este dia mudou de nome.(...)
Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.(...)
Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes quando o fazem, é de modo desajeitado. "As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares", disse(...) Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, "um povo que se julga Camões".(...).
Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.
Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar a História a favor do presente. (...) São, podem ser objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas. (...)
Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.
Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. (...) Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.
As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. (...) Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. (...)
Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça.
Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução.
Fizemos bem e mal.
Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso.
(Mas) Para isso temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.
(...)
Há mais de trinta anos, (...)
Desde então, muito mudou.(...)
Evoluiu (...)
Mudou (...)
A sociedade e o país abriram-se (...)
Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal...
A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também.
O favor ainda vence vezes de mais o mérito.
O endividamento de todos (...) não provoca um pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente. (...)
A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos.
É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos.(...)
Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos.
Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.(...)
Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.(...)
Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.(...)
Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.
Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores.(...) Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil!
Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age tem apenas a formula da retórica! (...)
Dê-se o exemplo de honestidade e verdade e a corrupção diminuirá.
Dê-se o exemplo do tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á.
Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários; tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados mesmo em tempos difíceis.
Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país."

(excertos de) Discurso de António Barreto nas comemorações do 10 de Junho de 2009

quarta-feira, 3 de junho de 2009

domingo, 31 de maio de 2009

amanhã








"today is better than tomorow"

(nome de uma música instrumental que ouvi recentemente da autoria dos ANGLES, agrupamento de jazz)








Fotografia de autoria- João Mouro,
reproduzida por mim durante a visita a um exposição que retratava uma viagem do autor ao subcontinente da Índia.

sábado, 25 de abril de 2009

no comments (parte 2)






















" Acredita-se que Segesta foi fundada pelos Elimi, um dos povos que os gregos encontraram à chegada à Sicília, mas que se aplicaram tanto na assimilação da cultura grega que é quase impossível distinguir as obras que deixaram para a posteridade dos originais que lhes serviram de inspiração.
O templo dórico terá começado a ser construído em 403 a.C. mas nunca acabado, uma vez que carece de cella, a parte mais sagrada dos santuários gregos, e também não se sabe a que divindade era dedicado.
Em compensação, conserva intactas as 36 colunas do peristilo, um primor de delicadeza, que milagrosamente se mantém de pé depois de 2500 anos de invasões e tremores de terra."

texto de Luís Maio,
in "Fugas" suplemento de sábado do Público de 9 de Maio de 2009







Viva! - Sam the Kid

quinta-feira, 16 de abril de 2009

nude


















Nunca sei do que mais gosto,


não sei se é da noite se é do dia,
se é da chuva se é do sol,
Se é do prato visto cheio,
se do corpo manso por ele.
Se é de gritar se é de conter,
Se é de encalhar onde me deito,
se de fluir vivo e correr,

Se é do prudente amarelo vivo,
se do exuberante vermelho morto,
se do branco a provocar o derrame,
se de lhe calar o vazio ao desenhar um rio.

'Conquanto ,

Que não seja o que nunca é
e que seja o que está ao pé,
Que a sombra se aproxime se arder
mas o sol não se esqueça de aparecer.
Que nada pareça o que não é
e que o desejo apareça de pé.

sugerido pelo ritmo de uma música e por Padre António Vieira
"querei só o que podeis e sereis omnipotentes"


Nude - Radiohead

terça-feira, 14 de abril de 2009

scatterbrain



























O futuro do passado trouxe alguma evolução nas técnicas utilizadas para conhecer o resultado da experiência sem ter que sujeitar a própria pele ao natural processo da imprevisibilidade.

A supervisão da ética social induziu a experimentação mais ou menos cientifica a encontrar alternativas à espécie humana como cobaia.
Esse mesmo processo civilizacional viria ainda a substituir os primos primatas por outros mamíferos mais ou menos domésticos até se fixar numa especifica espécie maldita de roedores.

No entanto, a coragem desenvolvida na intensidade das curiosidade e vontade insuportáveis, permanece em mentes socialmente desadaptadas e inconformadas.
Será da natureza humana rejeitar o conformismo de não querer o poder que lhes está proibido?
De herói a louco vai pouco.
O sentido de oportunidade comercial percebeu sempre o potencial de negócio dos sonhos.
E cerca-nos e afoga-nos de simuladores, simulações e de meios ao transporte da nossa mente.

Onde (sobre)vive o sonho de querer voar com asas, penas e bico(?),
sem motores, sem actores, sem cenários, sem duplos,
sem rede,
conduzido apenas pelo olfacto dos olhos de carne de sangue.

De louco a herói vai muito.


Radiohead - Skttrbrain - Four Tet

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Comentem!



O mundo virtual é qualquer coisa como um ambiente artificialmente exilado dos sentidos convencionais, pelo que os restantes canais de chegada aos nossos cérebros se agigantam, expandindo-se progressivamente como um fluido pelos terrenos desertificados das estruturas sensoriais.
Pode-se transformar (conforme as personalidades já construídas no sujeito agora blogguer),
no reino absolutista da razão, da imaginação, do espiritismo, ou do dedo mindinho que umas vezes adivinha bem outras mal...

A mente é uma folha em branco de dimensões e formas menos conhecidas que a Lua.
Quais serão as suas condições mínimas de habitabilidade?
A sua reconhecida capacidade de adaptação à nova oportunidade, ao novo ambiente, serão limitadas por balizas impostas pela própria organização da sua estrutura física e química?
O primeiro homem a lançar-se à água ganhará guelras ou morrerá aquém da glória?
Quantos serão os mártires necessários ao nascimento do homem da Atlântida?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

domingo, 29 de março de 2009

Escarafunchar no Futuro (Parte 3)

desenho assinado por Zé (JASLC) a 17/7/1980






















Combater o tempo morto

Na cidade,

crescem práticas de vidas independentes e indiferentes aos ciclos da Natureza, do dia e da noite, do Verão e do Inverno.

Este progressivo distanciamento dos ciclos naturais em paralelo com o declínio da actividade humana ligada aos sectores primário e secundário em favor do terciário, permite o desenvolvimento de novas fórmulas de gestão (individual) dos tempos de trabalho, de lazer e de repouso.

Também o desenvolvimento da versatilidade e eficiência dos meios de comunicação e informação, aliada ao crescimento da “industria” dos serviços, assim como a progressiva dificuldade de transporte no congestionado espaço físico, sugerem a partilha do espaço da individualidade (casa) com o social (trabalho).

Este quebrar dos padrões convencionais de equilíbrio entre célula individual e colectiva, terão com certeza duros preços sociais a pagar até atingir o reequilibro do ajustamento á mudança.

Os novos paradigmas de felicidade e sucesso apoiam-se na capacidade de cada um combater o tempo morto- o tempo que nos inibe de

Vivem-se tempos de experimentação de novas técnicas e tácticas de combate ao tempo morto.

Como o sono polifásico que sob o objectivo de maximizar a eficácia do repouso e assim ampliar o tempo útil do dia para as funções de trabalho e lazer.

Por dentro de um abrigo seguro de luz natural ou de neons , nascem novas e bizarras reorganizações dos dias da semana, subdividas em seis ou oito dias, marcando ritmos individuais e registo de marca de fuso horário com assinatura legível.

O desenvolvimento e progressiva tolerância pela diferença e individualidade permite o

nascimento em cadencia de novos grupos em torno de um qualquer interesse ou valor comum, geralmente alheios aos convencionais ligantes de raça, etnia, fuso horário ou estatuto social, apoiados na internet como espaço de relacionamento e comunicação.


(a minha avó só está a aqui para se certificar que eu faço os trabalhos de casa)

sábado, 21 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Escarafunchar no Futuro (Parte 2)


O tempo anda a andar mais depressa
ou é só impressão minha?


Em que medida é que essa (esta) urbanização da(s) cultura(s) e das relações sociais poderão definir e caracterizar o futuro?

Penso que no essencial, vão nascendo novas culturas (urbanas) formadas da síntese de partes cirurgicamente seleccionadas das culturas trazidas pelas comunidades migrantes.
Através de um processo darwiniano de evolução natural, livre e aberto à mudança, carrasco sem misericórdia do inútil e extremamente atento e despreconceituoso no relacionamento com o novo conquanto seja útil, independentemente da sua origem social ou geográfica.
É assim a cultura urbana:
Jovem, desinibida e metamorfótica.
Rápida, pragmática e avessa a nostalgias do passado.
Dando-se pouco tempo a tudo, incluindo a reflexões, ponderações e decisões.
A velocidade é a referencia de calculo de valor que define o preço de tudo.

Escusado será referir que o paradigma da maior e mais cosmopolita das cidades (mais que Nova Iorque) é a Internet!

A unidade de tempo desmultiplica-se e desvaloriza-se apelando a alterações da dimensão de medida, capazes de actualizar os seus valores de referencia desgastados pelo poder repetido da inflação do valor do tempo.
Tanto ou mais que o dólar do Zimbabué e exigindo maior celeridade que a operada na substituição do rei pelo escudo e deste pelo euro.
As estruturas organizacionais convencionais não denotam reflexos capazes de observar, menos de perceber,
menos ainda de reagir.
Respondem dessincronizadamente ao tempo da pergunta, do apelo, da necessidade, do estimulo.
Recusam-se a admiti-lo. Encerram-se no que compreendem. Em si mesmas.

O mundo vive um conflito entre poderes e realidades, desfasados no tempo, habitando espaços autónomos, sem canais de inter-relação efectiva.
Cada um deles (poder e realidade) desenha e constrói uma simulação do outro só o suficientemente credível para poder viver sem o desconforto de pensar que lhe desconhece a existência.

(continua)
(a não ser que o mundo, has we know it, acabe entretanto)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

MEME


Regras:


1- Dizem-se nove coisas aleatórias a seu respeito, não importando a relevância.
2- Seis delas são verdade e três são mentira.
3- Quem recebe o meme, deverá postar nas suas respostas as três mentiras do blogueiro.
4- Quem indicou revela depois (ou não)!
5- Não tem regras especificas para quantidade de blogueiros!


Aqui vão pois nove coisas a meu respeito, três delas são mentira:


1. Quando era pequeno, os meus pais diziam-me que como tinha nascido com o nariz tão grande não podia mentir nunca, se não quando crescesse teria que usar açaime na ponta do nariz para segurança dos outros.

2. Quando tinha quatro/cinco anos, por ser muito sossegado, costumavam deixar-me sozinho na sala nas manhãs de inverno, coberto com uma manta sobre uma mesa com braseira.
Um dia a manta ardeu, como uma boa parte da sala, enquanto eu fiquei sem reacção, choro ou gritos. E também sem queimaduras ou outras marcas físicas.
Mas essa minha atitude de passividade, fez acentuar nos outros a desconfiança sobre a minha personalidade.
O meu pai era pediatra.
No verão puseram-me no Jardim Escola.

3. A minha primeira alcunha, colocada pelo meu pai, foi "zé pistola".

4. Nasci com a membrana que segura a língua à boca, maior que o normal e por isso só consigo que ela toque o céu da boca quando a fecho.

5. O meu pé direito calça 41 e o esquerdo 43.
Uso 42, mas um pé fica torcido e o outro dança no sapato.

6. Uma vez atropelei uma mulher grávida na passadeira.
E fugi.

7. Desde que me lembro, quando vou com a minha mãe na rua e ela encontra alguém conhecido, apresenta-me como sendo seu neto e pergunta se eu não seria até bonitinho se não tivesse um nariz tão grande. E que pena que é.
Suponho que já tenha tentado outras formas de me envergonhar tanto, mas ter-se-á fixado na formula de maior sucesso.

8. Com dezassete anos fui convidado pelo meu professor de Educação Física para correr os cem metros no Campeonato distrital de juniores, mas quando lá cheguei o meu colega que calçava o mesmo número que eu não me emprestou as suas sapatilhas de tartan (não se podia correr com outras) e por isso tive que correr com umas 38, quatro números abaixo.
Corri em primeiro até metade mas acabei em último.
No fim, o meu ex-professor (já estava de férias) nem me dirigiu a palavra, de tão desiludido que estava comigo e com a sua aposta pessoal.
Mais tarde, disse-me só e secamente, que o objectivo eram os mínimos para o Campeonato Nacional de Juvenis (ainda tinha idade) que seriam disputados no mês seguinte em Lisboa, e que tinha falhado por um décimo de segundo, a unidade mais pequena que aqueles instrumentos de cronometragem são capazes de medir.
Nunca mais nos vimos.
Nunca mais me esqueci do que são cem metros.
É bem mais do que parece.
É um prova de resistência, tanto como de velocidade.
E precisa de treino, como o resto.

9. Não gosto de mudar de sapatos porque me modifica o andar.
Ando sempre com os mesmos e só depois de estarem todos rotos é que compro outros.
Iguais.



As mentiras da Carla da Cafetaria 24 horas já as denunciei no seu blogue.

Agora para passar o mem é que já fico hesitante, porque sou novato nesta atmosfera e por isso conheço muito poucos blogues e mesmo esses pode ser que não lhes apeteça.
Mas, sem querer ser supersticioso, se alguém que estiver a ler e tiver blogue, o quiser fazer eu fico agradecido e menos receoso duma trovoada em cima da minha cabeça ou qualquer outro tipo de azar que me possa vir a condicionar negativamente o futuro.

Antecipadamente, agradecido a esses.

Construção - Chico Buarque

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Escarafunchar no Futuro (Parte 1)


O amanhã já começou hoje.
Até ontem


da mesma forma que o passado, naquilo do que foi que ainda não deixou de ser mas deixará um dia, ainda sobrevive em agonia.
Os vários tempos e respectivas caracterizações, formam a cada momento colagens sobrepostas em tensos equilíbrios de coexistência.

Independentemente daquilo em que se possa ter transformado, o sentido do estudo da história tem similaridades com a meteorologia.
Definir e entender o passado, particularmente os seus traços cíclicos, para poder adquirir consciência de prováveis/possíveis relações causa-efeito de atitudes ou decisões tomadas no presente.
Estudar o passado para perceber em que medida se pode hoje controlar ou afunilar o futuro.
Perceber os movimentos de mudança presentes no percurso do tempo, para assim poder caracterizar as suas tendências e direcção.
É dessa liberdade criativa condicionada, reduzida dos destinos improváveis do tempo que se faz a melhor ficção cientifica.

Como se distribuirá a ocupação populacional do planeta daqui a um par de décadas?

A crer na maior parte da ficção cientifica, acentuar-se-á a tendência em curso de fixação populacional em torno de poucos e progressivamente menos, centros urbanos.
Densificação de mega-cidades, onde aceleradamente se desenvolverão as compensações humanas e sociais ao estado de coma do ambiente natural sob a forma da expressão do imaginário artístico e da artificialização das inter-relações e dos ambientes.
Em simultâneo com o declínio da ocupação humana do restante território, entregue a uma uniformização industrial do meios de produção alimentares, tecnologicamente capaz de criar formas de crescimento de produtividade mas também de resistência à progressiva deterioração do meio ambiente.

A menor parte da ficção cientifica, associada a cenários pós (smi) apocalípticos, retracta o regresso às formas básicas de sobrevivência e às relações humanas mais primárias, extremadas em caricaturas de pureza e de vício.
As grandes cidades são território abandonado ao limite dos seus defeitos.
Local de ruínas, fantasmas e armadilhas. Inseguras até para os fortes, feios e maus.
As probabilidades de sobrevivência crescem na dispersão da fuga, no encontro dos recantos improváveis onde nasce a esperança de conforto e segurança fraternal através da recriação de um passado idílico.
É ambiente de redenção das inércias do desenvolvimento e da ambição, e de nostalgia do campo no seu sentido de pureza e harmonia.
Argumentos de simbolismo tipo épico-bíblico. Antigo Testamento.
Pedagogia das portas do Inferno.

Mas mesmo estes cenários que descrevem movimentos centrífugos ou de (re)dispersão da ocupação do território, baseiam-se no colapso de um padrão anterior, centrípeto.
Tendo já este como certo (ou presente) e apenas o outro como argumento de ficção da reacção e adaptação humana ao imprevisto, à catástrofe, à impotência, ao desamparo.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

sábado, 7 de fevereiro de 2009

second life



















Como é que se organiza duas vidas, em dois espaços,
em um só tempo, em um só corpo?

Como é que um corpo vive uma vida que não é dele?
Fuma, treme. Faz-lhe algum bem?

Como é que uma cabeça construída para partilhar com o corpo a alegria, a tristeza e a ansiedade, sobrevive?

Como é que quem nunca fez, faz?

Como é que quem nunca conseguiu, consegue?

Como é que se sabe se o que se pensou, se escreve?

Como é que se sabe, se o que se escreve se publica?

Como é que se transporta o corpo do ontem para o amanhã, sem passar por hoje?

Porque não chove, não faz sol nem silencio? hoje

Porque é que o tempo parou onde não devia?

Onde está o cobertor e a almofada?

Como se descansa?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Al-cunha (parte 3)

Voltando atrás ao muito recentemente,

apenas uns sete "anos blogguer" atrás*, uma entidade desconhecida comunicando através do meu monitor, impeliu-me a definir-me e a constituir-me como "blogguer" caso estivesse verdadeiramente interessado em editar um comentário a algo que tinha lido, num blogue.

Compreensivelmente transtornado, mas visceralmente lúcido de que "os toiros enfrentam-se é de frente", esgotaram-se-me-por-completo todos os nomes que não os únicos de que me lembro quando inquirido por qualquer tipo de autoridade.
Vi-me pois, visivelmente algo nervoso, procurando pela ultima versão da carta verde.

"Merda, porque é que eu optei por pagamentos trimestrais?
Tenho que deixar de seguir como instruções divinas todas as letras das minhas músicas preferidas. Principalmente se se referem a deixar para o dia seguinte; nem falam em trimestre!
Livre interpretação o tanas, tu gostas é de ter o dinheirinho do lado de cá, que sendo sabido que a vida é curta, às vezes é muito curta."

E para meter medo ao touro ainda anexei a minha melhor fotografia, sorrindo, que eu não gosto de multas mas ainda menos gosto de guerra.
Assim ficou.

Hoje,
uns "dias blogguer atrás", repetiu-se tudo igual, mas diferente.
Mas todos os submúltiplos da vida não exactamente assim?
Iguais mas diferentes.
Iguais numas coisas e diferentes noutras.

Deixando para trás ( neste caso também para (posts) baixo) os iguais, resta descrever os diferentes- O Al, o tracinho e o cunha.


*se calhar fiz mal a conversão dos anos blogguer e talvez ainda seja demasiado novo para postar...BAh- insegurança momentânea

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Desafio d’em pequenas doses

Gosto de...



nas Coisa simpes, me perder na complexidade dessa estrutura perfeita

-Dos paradoxos que tudo o que é simples encerra.


- de mergulhar e demorar-me muito a largar aquela musica de silencio.

Sobretudo a dos pensamentos. É um fascínio que me parece levar (voltar?) a um mundo em que não há palavras e os sons nos dizem tudo o que precisamos de saber.

- Encher a boca de ar, regressado à tona.

- Já poder voltar “lá para dentro”.

- De falar e brincar com as crianças quando não há adultos a ver ou a ouvir.

- Me sentir compreendido, não tanto mas mais vezes do que de me sentir amado.

- De sentir que agora tenho aquilo que antes me fazia falta, mas que não me fazia falta realmente, apenas porque não conhecia a sua existência. ainda. Esta é de gajo ambicioso.

- Encontrar o abrigo depois de longa e extenuante jornada na pradaria.

- Sair do abrigo em postura de convite à chuva, ao vento, ao olhar e a quem mais vier. Afastar-me sem olhar para trás.

- Perceber reconfortado que o mundo é redondo ao vislumbrar novamente o abrigo. Mas desta vez visto de um ponto de vista, anteriormente pouco explorado- de frente.

- Perceber que cada segundo é único através de uma rajada ou de uma mudança de direcção do vento.

- Entrar nos olhos de uma criança que nunca vi antes, e perceber que cada pessoa é única.

- Adormecer sob pesado ruído de chuva ou granizo, reconfortado e seguro que dali ninguém me quer mal.

- De comer, de beber, de dormir.

De acordar

- De perceber que nunca se pode dizer tudo, porque o que não se diz tem uma importância complementar não menos importante e porque há mais dias para dizer. e para calar.

- Perceber quando estou a fazer o que devo, no sitio que devo à hora certa.

- Perceber quando não estou a fazer o que devo, no sitio que devia.

- Pedir desculpas, assumir erros, com um prazer proporcional ao tamanho e idade da minha teimosia passada.

- Voltar a ler um livro que já li à vinte anos atrás e perceber que se mantêm todas as vantagens de uma primeira leitura e que se acrescentam todas as vantagens de uma segunda.

Não perceber que envelheço, porque todos os segundos percebo que se acrescenta muito mais e mais valioso do que o que se perde.

Perceber que a unidade de tempo da minha vida é o batimento cardíaco e não o segundo.

E que o valor cambial da troca me é favorável. Por mais frequente que 60 por minuto.

VIVER

- Descobrir- me, redescobrir-me, no meio do processo de conhecer o outro.

- Conhecer aspectos, se possível os essenciais, do sitio (múltiplo e abstracto) onde vivi, quando estou onde antes nunca tinha estado, incluindo sonhos.
- Perceber porque é que fiz algo, noutro momento diferente em que me encontro a fazer aquilo que nunca antes tinha feito.

- todos os resultados da amizade. Mesmo em cinema.

- Rir, sorrir e conseguir chorar

- Lembrar-me de quem gosto

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Al-cunha (parte 2)



Menos recentemente
,
Cerca de setecentos "anos blogger" atrás, a minha irmã mais nova, que é mais velha, apontou de dedo indicador em riste no sentido da barriga da minha mãe e disse- " !".

Aquele que estaria por trás daquela descomunal epiderme esticada seria o meu irmão mais novo, ainda que mais velho.
Se tivesse nascido.
A minha mãe escorregou ao descer as escadas e ele morreu, digamos assim, porque ainda não tinha nascido.

SI (scriptum intercalar) :
Naquela memória difusa que descende do que nos é contado por outros como verdade verdadinha, a minha mãe terá sido em tempos idos em que trabalho é trabalho e os dois são ordenado, professora de ginástica, o que para quem a conhece será bem ilustrativo do que o ensino público terá um dia sido, independentemente do que é hoje.

Naquela altura em que essa minha irmã (apesar dos seus apenas cerca de trinta e cinco "anos blogguer") terá dito aquela palavra, esta, apesar da sua reduzida complexidade léxica, terá sido no entanto, apenas a segunda ou terceira após os inevitáveis Papá e Mamã, se não mesmo até antes de um deles.

De qualquer forma eu não estava lá.
Diz-se...
Mas, vinte e poucos "anos blogguer" mais tarde, eu nasci.
Já com primeiro nome, se bem que administrativamente com mais letras.



segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Al-cunha (parte 1)

Bem,

Necessidades recentes em escolher nomes levaram-me a sentir precocemente colocado na característica situação dos pré-pa-pais*, pelo menos na percepção da responsabilidade do momento definidor de uma matriz para toda uma vida de outra vida.
O processo de desesperante angústia da eliminação de partes até chegar ao já está que ele(a) já anda e qualquer dia fala, se descobrirmos um nome melhor voltamos a descuidar-nos com os anti-contraceptivos e procuramos um segundo emprego (nos dois sentidos- o outro sentido é o emprego do nome , que por sua vez tem mais sentidos e por aí fora, num processo de multiplicação semelhante ao dos coelhos e ao dos chineses pré-geração filho único).

Este nome não, se não ele passa a ser conhecido pelo outro que é horrível;

o outro nem pensar que fica na fila de trás e se tiver a sorte de não ser surdo, de distraído não se safa;

Mas com esse nome de fila da frente nem lhe compensa ser protegido da professora pois vai passar a rezar tanto para que chova muito e não haja intervalo,que além de se tornar, sem duvidas nem defesa possível, o saco de porrada dos colegas, também não se vai dotar das serenidade e confiança necessárias à aprendizagem;

Se calhar o melhor é pôr dois nomes como os antigos, para o caso de correr mal um sempre tem outra vida.

Bem, para escolher palavras e pior, conjugação delas, já se sabe, faz-se a contragosto porque há mais passos a dar para onde se quer ir se não exagerarmos muito no desleixo, ninguém fica coxo para a vida.


Mais recentemente ainda, foi-me transmitido por um experiente blogger que três anos de blogue equivale a uma vida inteira.
O que eu não duvidei, já que vejo morrer de velhos, sem doenças, muita gente com essa idade (a idade de uma vida), apenas com vontade de ir ter com os seus entes queridos que já se foram (voltaram?) para a outra dimensão, que alguns visitaram mas garantem que de lá não se volta direito.
Presumo que seja a dimensão dos cafés, dos bares, das discotecas e da rede telefónica fixa.
Mas objectivamente não sei, esse tipo de espiritismo (ao contrário) dá-me arrepios!

Bem, eu com os meus três meses blogguer já devo ter idade para casar e ter filhos, ups..., digo, para ter blogue e posts. Pelo menos seria o que diria a minha mãe blogguer!

E então...subita e atabalhoadamente como todos os começos, conhecedor de tudo o que é possivel saber sem nunca ter ousado fazer, aconteceu para enorme surpresa de não sei quantos a não ser de mim mesmo.



* Plural; inclui a mãe,quando não mais gente

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

a pequena arte DE FICAR BEM NA FOTOGRAFIA

a pequena arte DE FICAR BEM NA FOTOGRAFIA

a vida na morte, a morte em vida


A máquina registradora de um instante apontado à face nem sempre é a fotográfica, mas essa é indubitavelmente a que nos açambarca os sentidos perante o seu indisfarçável poder em fixar um registo tão cru.

Do nosso interior através do exterior.

De eficácia insuperavelmente superior ao registo filmico, perante o qual é possível acrescentar-mos sucessivamente mais dados de comunicação.

Repor o equilíbrio.

Disfarçar um segredo.

Abrir um olho fechado.

Espreguiçar um arquear de costas.

Contrariar um balanço de sentido.

Tempo. Abordar espaço.

Será certo que a impercepção, a despreocupação, a indiferença in voluntárias, ou até mesmo a própria ignorância permitem o não reconhecimento da dimensão potencial da nossa nudez interior naquele preciso instante.

Como se estivéssemos a expor um fragmento de um sonho com todas as suas cores, formas e protagonistas. Dando todo o tempo de vida do próprio registo à sua decifração.

Suficientemente atentatório da privacidade para incomodar.

Demasiado falso por impreciso e redutor do julgo de qualquer alma consciente.

Independentemente da solidez da sua abertura à transparência.

Face aos outros.

A ABORDAGEM DO SENSO COMUM:



Suster a respiração, (d)os pensamentos.

Todos os músculos da cara.

O olhar.

Legendar a imagem que escolheria para ilustrar a noticia da sua morte na secção de necrologia, se tal fosse possível, se é que não é.

Tendo certo o certo de que a vida não pára, são atitudes autobiográficas de involuntária preparação para a morte. Ou depois.

Por paradoxo, a fotografia sendo aquilo que pretende ser, um instrumento de projecção futura e de recordação passada da vida após o seu fim,

ou de um instante acabado, morto de vida e de presente,

é colocado estrategicamente em locais que o curso do quotidiano não pode evitar de se deixar contaminar,

é abordada como paragem- tradução universal de morte. D’ algo.

Ainda que provisória.

Ou não