domingo, 29 de março de 2009

Escarafunchar no Futuro (Parte 3)

desenho assinado por Zé (JASLC) a 17/7/1980






















Combater o tempo morto

Na cidade,

crescem práticas de vidas independentes e indiferentes aos ciclos da Natureza, do dia e da noite, do Verão e do Inverno.

Este progressivo distanciamento dos ciclos naturais em paralelo com o declínio da actividade humana ligada aos sectores primário e secundário em favor do terciário, permite o desenvolvimento de novas fórmulas de gestão (individual) dos tempos de trabalho, de lazer e de repouso.

Também o desenvolvimento da versatilidade e eficiência dos meios de comunicação e informação, aliada ao crescimento da “industria” dos serviços, assim como a progressiva dificuldade de transporte no congestionado espaço físico, sugerem a partilha do espaço da individualidade (casa) com o social (trabalho).

Este quebrar dos padrões convencionais de equilíbrio entre célula individual e colectiva, terão com certeza duros preços sociais a pagar até atingir o reequilibro do ajustamento á mudança.

Os novos paradigmas de felicidade e sucesso apoiam-se na capacidade de cada um combater o tempo morto- o tempo que nos inibe de

Vivem-se tempos de experimentação de novas técnicas e tácticas de combate ao tempo morto.

Como o sono polifásico que sob o objectivo de maximizar a eficácia do repouso e assim ampliar o tempo útil do dia para as funções de trabalho e lazer.

Por dentro de um abrigo seguro de luz natural ou de neons , nascem novas e bizarras reorganizações dos dias da semana, subdividas em seis ou oito dias, marcando ritmos individuais e registo de marca de fuso horário com assinatura legível.

O desenvolvimento e progressiva tolerância pela diferença e individualidade permite o

nascimento em cadencia de novos grupos em torno de um qualquer interesse ou valor comum, geralmente alheios aos convencionais ligantes de raça, etnia, fuso horário ou estatuto social, apoiados na internet como espaço de relacionamento e comunicação.


(a minha avó só está a aqui para se certificar que eu faço os trabalhos de casa)

23 comentários:

ze disse...

ainda em experiências de players..
uploads à parte, o que é que vocês acham das duas versões da mesma música que imeem e myflashfetish proporcionam?

Na versão ao vivo do imeem dá bem para perceber os dedinhos e o coração desta moça.
Dedinhos para viola, mas também para piano!

O imeem tem mais variedade de versões à escolha.
Já posso confirmá-lo.

E como é que se tiram aquelas partes inferiores das caixinhas?

ze disse...

já adicionei num post abaixo outra música para descansar deste stress do "fast as you can".

(quase)invariavelmente as últimas músicas dos meu álbuns preferidos são as que mais quero ouvir repetidas antes de mudar o disco.
mas acho que não sou só eu!

Arábica disse...

Zé,

sabes tanto de imeem, neste momento, quanto eu. Não te consigo ajudar :(

As versões são muito diferentes. A do imeem parece mais rouca (menos clara) é impressão minha? Quis ouvir 2ª vez mas não deu. Amanhã experimento, tiro dúvidas.

Acho que deixei de ter música no portátil.

:(


hasta, vou verificar.

ze disse...

isso daquelas partes de baixo das caixas dos player eu já tinha conseguido eliminar uma vez (de uma forma muito simples).
Só que me esqueci.
É mais por isso que me chateei com o assunto.
Mas são dias, há uns que me incomodo com pequinhices e outros que não me incomodo nada.

Eu gosto mais da do imeem.
A gravação é ao vivo o que lhe dá esse ar de único e ela engana-se e fala com o público, o que também gosto.

E o desenho da minha avó, devo pô-lo direito, ou fica bem assim?

E o texto do post faz algum sentido?
Devia antes arranjar outro tema?

E pus outra música num post abaixo, também gostava de saber se gostas(gostam).

Eu gosto de saber as opiniões!
Especialmente para formar a minha.

bom dia, boa tarde ou boa noite conforme a hora da próxima visita.

E os sorrisos são assim :)
não são assim :(

amanhã de certeza que já consegues ouvir,
também se isso acontecer só neste blogue não é grave!

rosa disse...

ó por favor!!! entao pões a senhora tua avó de pernas para o ar, achas bem, zé? achas que ela, ia-vai gostar?


endireita lá isso.

musicas e texto só mais logo.

ze disse...

Rosa,

Ontem fiz tudo assim de qualquer maneira,
No texto também se nota.

A avó Armanda ficou da maneira que chegou do scanner.
Quando vou a rodar a imagem, avisam-me que a dita perderá qualidade,
Pelo que me sinto impelido a fazer uma cópia prévia.
Depois e no meio da vontade de meter musicas deixei-me levar pela preguiça de não rescrever o texto na caixa da mensagem, apesar de já saber que isso trás sempre desatinos quando faço copy-paste de um ficheiro word.
A única vez que o fiz foi logo no primeiro post, que nalguns computadores não se visualizava bem, aliás como tu própria me avisas-te.

Neste caso, não me permite fazer alterações nenhumas. Dá sempre erro ao guardar.
Comecei por tentar adicionar música e não deu.
Hoje não permitiu adicionar mais uma imagem (do retracto direito).
E agora mesmo acabei de confirmar que nem ao texto permite modificações.
(experimentei pôr um ponto final e não aceitou)

Portanto para substituir a imagem tenho que voltar a escrever o texto à mão.
Talvez depois, agora não me apetece!
E mesmo assim não tenho a certeza que iria conseguir fazê-lo neste post e se fôr no novo perco estes comentários.

ze disse...

Acho que ela ia gostar de saber que passados este anos ainda me lembro dos desenhos que eram tanto dela como meus.
Mas sim, ia preferir tudo o mais certinho possível!

Ia gostar também de saber que eu ando a arrumar as minhas coisas e que ando a fazer os meus trabalhos de casa. Ou a tentar.

Não posso de todo saber o que iria pensar dos meus textos sobre o tempo.
Provavelmente procuraria primeiro saber a opinião do meu avô, que seria então também a dela.

Ela viveu toda a vida ao bater do relógio de parede.
Em viuva pelo menos, que foi como a conheci.
Todos os dias iguais, tudo igual à mesma hora, qualquer minuto de atraso (ou de antecipação) eram excepção recebidas como um terrível e inconsolável transtorno.
Um equilíbrio desequilibrado, portanto.

Mas como eu quero conseguir cumprir os prazos de todos os meus trabalhos de casa, talvez precise de voltar a ver o olhar severo e disciplinador da minha avó sobre mim...

Arábica disse...

Zé,


para mim ambas as versões me parecem bem; atenção que hoje volta a acontecer o mesmo: não consigo repetir a dose para tirar as teimas.

O que será que impede?


E a que chamas de tempo morto?

Aquele tempo em que nos sentamos a olhar para o próprio umbigo?

Será o "dolce fare niente" de regozijo comprovado?

Se é a esse que te referes, asumo-me como sua defensora: precisamos desse tempo para ouvir o nosso próprio relógio e sabermos de nós, com tanto rigor, como sabemos das epopeias politicas debatidas em todos os telejornais transmitdos em horário nobre!

Arábica disse...

Não consegui deixar de ler o comentário sobre a tua avó.


Há fantasmas bons, dizias tu, uns destes dias...

E aqui está a avó Armanda ainda zelando pelo seu menino... :)(bonita essa imagem)

Doces as lembranças que guardas.
E a confiança impressa.

Num tempo em que as avós tinham um papel muito menos "porreiraço" do desempenhado actualmente, lembro muitas vezes as histórias reais que a única avó que conheci viva, me contava.

Beijos, noite feliz!

Arábica disse...

Ps-e que os tpcs saiam perfeitos e em boa hora :)

Rui disse...

Acho que esse novo (?) espaço de relacionamento também está a fazer das suas no campo, e não só na cidade. Estamos todos mais próximos, à medida que nos vamos afastando uns dos outros.

ze disse...

Arábica,

Já sabes que para essas perguntas técnicas não sou o interlocutor indicado.
Eu no meu consigo, não te posso ajudar mais!

Sobre aquilo que eu chamo de tempo morto é o mesmo que é vulgar chamar-se.
Tempo gasto. Aquele que não é sentido como tendo sido útil, válido na gestão de cada dia de cada vida.
Tempo de espera entre duas acções valorizadas.
Tempo que necessita de ser morto- “matar o tempo”.
(eu sei que não me expliquei bem)
No texto do post que eu já assumi como incompleto deixa em aberto uma parte, precisamente porque se trata de uma avaliação individual (de cada um) do confronto introspectivo do que queremos fazer com o que fazemos.
“Os novos paradigmas de felicidade e sucesso apoiam-se na capacidade de cada um combater o tempo morto- o tempo que nos inibe de “
O texto dá o exemplo do sono polifásico (usado pelo L. Da Vinci, por exemplo), cujos praticantes consideravam o tempo de sono para além do mínimo indispensável, como tempo morto.
Esse método de gestão de sono (15-20 minuto por cada duas horas acordado), garante por dia, para aí mas 21 horas acordado.
Já o Einstein que dormia dez hora por dia, não consideraria de certo esse tempo como sendo morto, pois claramente valorizava-o.
Cada um, cada vida, procurará a gestão de tempo que mais se lhe adeqúe, e os novos tempos favorecem, toleram mais essas especificidades individuais.
(quase que acabaram os trabalhos do campo e da industria e os serviços fazem-se ou podem-se fazer cada vez mais em casa, a mudança de espaço social (net) permite essas transformações de modelo de gestão de tempo)
Percebeste melhor o que eu queria dizer no Post?

ze disse...

Os comentários estão à vista, como tal são para (se poder) ler.
Eu não sei, mas gosto de acreditar que sim.
Que aqueles que enquanto vivos gostavam de nós, se ainda tiverem alguma margem de intervenção sobre algum tipo de acontecimentos, fá-lo-hão de bom grado.
Não quer dizer que eu pense nisso, ou que conte com isso.
Mas não fazendo mal a ninguém, não temos que nos preocupar com fantasmas.
Quem me pode querer fazer mal está vivo e os motivos serão sempre de interesse material, que por definição depois da morte já não existirão.
Ps- os tpcs andam atrasados, mas hão de estar complectos no tempo devido!
Beijos e uma boa noite!

ze disse...

Rui,
Estamos num momento de transição, de reajustamento dos relacionamentos com tudo.
A tua expressão de “novo(?)” é pertinente.
As estruturas, as ferramentas de organização social estão permanentemente em mudança desde sempre!
O que acho que está a mudar é o que foquei no post anterior- “o tempo anda a andar mais rápido”,
A minha dúvida centra-se sobre a nossa capacidade de resposta (antropologia, sociológica) ao nível de aceleração da mudança.
O senso comum ou o avô, dizem-nos que mudanças requerem tempo.
Para percebê-las, para consolidá-las, para nos reposicionar-mos, ajustar-mos.

Quanto ao campo e à cidade, não sei se isso não é aquela condição da insatisfação humana cantada pelo Variações.
Tu tens razão, viver no campo com um pc e net , parece possível tirar partido do melhor dos dois.
Mas filosoficamente tenho que desconfiar dos modelos que neglicenciem as desvantagens.

ze disse...

Rui,
Mais uma coisa,
A pouca margem de intervenção que a vida nos reserva, deve ser encarada por nós com a maior das responsabilidades. Não podemos negligenciar a identificação dessas subtis oportunidades, nem o nosso auto conhecimento, de forma a podermos estar (viver) onde as probabilidades são maiores de sermos mais vezes felizes.
Eu podia ceder à tentação de te dizer que no “campo” não vais ver aquelas personagens que te inspiram a construir outras na tua escrita.
Mas ia-me enganar a mim mesmo.
Eu vivi numa cidade de 15 mil pessoas de uma ilha de 40 mil e 60x40 km e fui conhecer as personagens mais intrigantes, mais densas, intensas e interessantes que já conheci em toda a minha vida (real), todas num pequeno espaço de uns 4x4 metros.
Nunca fui às Flores e ao Corvo, mas pelo que me dizem são lições que não cabem em toda a bibliografia clássica mais os escritores russos do século 19.
Mas atenção, não se traz nada de lá de mochila às costas, máquina fotográfica, microfone na mão ou qualquer outro tipo de voyerismo turístico.
O imediatismo só trará o que les querem que se traga- postais.
É preciso viver lá. No Inverno. Quando os barcos não chegam, nem os mantimentos.
É preciso ser um deles.
Obrigado pela visita,
Abraço

Arábica disse...

Sim, percebi melhor.


Ao que me é dado ver, o tempo de net ultrapassa em muito, o considerado tempo morto.

Conseguiríamos sobreviver sem net?

O que fariam os milhares de pessoas que diáriamente fazem parte de um grupo de chat?

O que seria das nossas manhãs sem e-mails?

O que seria das nossas fotos sem blogs onde as publicar?

O que seria de tanta história gira, de tantas palavras escritas, sem um blog, para as publicar?


Onde se guardariam os corações solitários que se adivinham nos bastidores dos chats?

Quantas gavetas seriam necessárias para tantos contos, tantos poemas?


Sem net, jogaríamos mais futebol, faríamos mais vezes yoga, leríamos mais livros, daríamos mais atenção às pessoas que nos cercam na vida real? Aos que se cruzam connosco?

Só me resta mesmo um cigarro...


Hasta...


:)

Rui disse...

Zé,

Concordo.

Falando no meu caso pessoal, mal ou bem, consigo encontrar alguma coisa nos sítios mais pequenos - nem sempre, nem em qualquer lugar - e trazê-los comigo, mesmo quando vou de mochila às costas e câmera em riste. Não vou com essa intenção: a mochila e a câmera não são instrumentos de "trabalho", mas sim de prazer; não pretendo ficar a conhecer as pessoas e os locais da maneira que sei que só se conhecem, tal como tu dizes, vivendo lá o tempo suficiente. Acontece é que mesmo o mais ínfimo pormenor me pode chegar para construir algo. E isto é assim em locais remotos, como na maior das cidades. Pego nessa pequena ponta do novelo e invento outro novelo. Acho até que jamais conseguiria ser um deles, vivesse lá o tempo que vivesse, de tal maneira sou aquilo que sou.
No verão passado estive uns dias em Santa Maria e lembro-me de ter achado que seria um enorme desafio escrever uma história ali passada. Mas, na verdade, não trouxe de lá nada por onde pegar. Assim como não trouxe de Roma, onde estive há duas semanas. O que não quer dizer que, um dia, algo que agora está esquecido dessas duas realidades, não me venha a surgir como o inicio de algo.
Esta coisa da escrita é um passatempo.

ze disse...

Arábica,
Não acho que tenhas percebido melhor.

O tempo morto é o tempo que gastamos a fazer alguma coisa que se tivéssemos escolha não o faríamos.
Mas não nada em especial, depende de cada pessoa, de cada momento da vida de cada pessoa.
Por exemplo:
Para alguém que vive a trinta quilómetros do local de trabalho e para evitar ficar parado numa fila durante meia hora todos os dias.
Ao ponto de preferir acordar mais cedo para evitar o transito.
E chegar antes do tempo ao trabalho e aproveitar esse tempo para trocar mail com amigos ou simplesmente para trabalhar mais para ser mais reconhecido e ganhar mais dinheiro.
É uma estratégia dessa pessoa matar aquele tempo (dentro do carro parado) que ele considera tempo morto.

Outra pessoa diferente,
Acorda o mais tarde que pode porque sabe que essa meia hora a mais de descanço lhe vai ser preciosa para se manter tão activo como necessita durante o dia.
Corre para o transporte público que sabe que não pode perder sob pena de chegar atrasado ao trabalho, mas aproveita o tempo que está no transporte para gozar o prazer de ler aquele livro de que está a gostar tanto.
Mas se perdeu o comboio ou o autocarro fica ali parado na estação a pensar em todos os imprevistos que esse atraso lhe causou. E nem se lembra que trouxe um livro para ler.
Tempo morto.

Não escrevi assim tão mal, que não se perceba.
Estás é a gozar, ou provocar (no bom sentido) ou lá que é.

Hasta!
(isso é alguma saudação cubana?)

ze disse...

Rui,
Só um pequeno esclarecimento:

Quando me referia às Flores e ao Corvo, pretendia reforçar um paradigma, um estremar de unicidade.
Uma ilha é como um laboratório (Darwin) que permite uma visão mais clara e mais precisa.
No caso a que me referia, de algo que generalizei como “condição humana”.
Big brother televisivo.
Como é que aquelas pessoas se aturam?
Como é a cultura (do Corvo) que lhes ensina como se aturarem.
Antropologia e Sociologia.

Quando mencionei “os turistas que chegam”, procurava mais encontrar o olhar com que o corvino encara o turista do que o contrário.

Há coisas que só se sabem passando por elas.
Eu nasci em Coimbra onde vivi até aos 18, depois vivi 10anos o Porto e 7 em Guimarães.
Achei sempre “que jamais conseguiria ser um deles, vivesse lá o tempo que vivesse, de tal maneira sou aquilo que sou”, tal como tu.
Depois, vivi menos de três anos na Terceira e já me baralhei um bocadinho.
Sei que há a hipótese do produto do isolamento (o tal do big brother) mas também outra que um amigo meu que foi trabalhar por necessidade para Madrid e está agora convencido de que há um lugar onde as nossas (de cada um) virtudes são mais valorizadas e onde os nossos defeitos são mais tolerados.

Quanto à escrita para ti ser um passatempo, eu imagino o ponto a que já deves estar defensivo e cansado dos elogios à tua escrita resvalarem para o DEVIAS escrever um livro!
Pois entre trabalho e passatempo, além das questões do poder e do querer (e vice-versa), as escolhas quando as há, são sempre relativas e por isso às vezes temporárias.
Eu não quereria fazer da escrita o meu trabalho. Deve ser algo demasiado doloroso quando limitado de tempo, de tema e de mais o que quem paga quiser impor.

Rui disse...

Zé,

Percebo. Sei que sim.

(e vou namorando a ideia de escrever um livro)

Abraço.

ze disse...

Rui,

Desejo-te boa sorte e critério na escolha da noiva,

Que possua todas as características necessárias à concepção e criação de um livro inteligente, bonito, simpático e ético.
Na dúvida, abstém-te!

Pareço o papa em África! :)

abraço

Rui disse...

Na dúvida, uso o preservativo.

Que Deus me perdoe! :)

ze disse...

O preservativo é uma boa escolha.
Dá para ir treinando o material, para garantir que ele está em forma chegado o dia D.

Deus é misericordioso!!!