sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

a pequena arte DE FICAR BEM NA FOTOGRAFIA

a pequena arte DE FICAR BEM NA FOTOGRAFIA

a vida na morte, a morte em vida


A máquina registradora de um instante apontado à face nem sempre é a fotográfica, mas essa é indubitavelmente a que nos açambarca os sentidos perante o seu indisfarçável poder em fixar um registo tão cru.

Do nosso interior através do exterior.

De eficácia insuperavelmente superior ao registo filmico, perante o qual é possível acrescentar-mos sucessivamente mais dados de comunicação.

Repor o equilíbrio.

Disfarçar um segredo.

Abrir um olho fechado.

Espreguiçar um arquear de costas.

Contrariar um balanço de sentido.

Tempo. Abordar espaço.

Será certo que a impercepção, a despreocupação, a indiferença in voluntárias, ou até mesmo a própria ignorância permitem o não reconhecimento da dimensão potencial da nossa nudez interior naquele preciso instante.

Como se estivéssemos a expor um fragmento de um sonho com todas as suas cores, formas e protagonistas. Dando todo o tempo de vida do próprio registo à sua decifração.

Suficientemente atentatório da privacidade para incomodar.

Demasiado falso por impreciso e redutor do julgo de qualquer alma consciente.

Independentemente da solidez da sua abertura à transparência.

Face aos outros.

A ABORDAGEM DO SENSO COMUM:



Suster a respiração, (d)os pensamentos.

Todos os músculos da cara.

O olhar.

Legendar a imagem que escolheria para ilustrar a noticia da sua morte na secção de necrologia, se tal fosse possível, se é que não é.

Tendo certo o certo de que a vida não pára, são atitudes autobiográficas de involuntária preparação para a morte. Ou depois.

Por paradoxo, a fotografia sendo aquilo que pretende ser, um instrumento de projecção futura e de recordação passada da vida após o seu fim,

ou de um instante acabado, morto de vida e de presente,

é colocado estrategicamente em locais que o curso do quotidiano não pode evitar de se deixar contaminar,

é abordada como paragem- tradução universal de morte. D’ algo.

Ainda que provisória.

Ou não


12 comentários:

Arábica disse...

Zé,

ainda não refeita do espanto, entro neste teu espaço, devagar. Devagar demoro-me a ler cada palavra tua, ergo-me no formato das letras, quedo-me lentamente nos suportes cheios, descritos vazios, como se o rosto fotografado não fosse espelho do alicerce.pensamento que o anima.

Para lá da mensagem clara que leio, procuro a outra; se é que numa mensagem escrita haverá outra mensagem clara de algo que nem sempre é claro. Tantas mensagens dormem sonambulas no limbo entre a consciência e a, ainda, terra desconhecida do inconsciente.

De resto, como tu bem descreves, nas fotos também. Eu gosto, quando olho uma fotografia, de ter tempo para intuir os três tempos que sempre lhe encontro. O tempo do olhar do fotografo, o tempo daquele fragmento retratado a meus olhos, e o tempo do fotografado até aquele momento. Fotografias para mim, são encontros de almas em vários tempos. O único tempo de "paragem" que lhes encontro é enquanto dormem sem serem olhadas, sentidas. Talvez como a vida.

A morte será breve, um rasgão.

Na pele. Na película.



Ou será que -afinal- continuarão a existir na memória fotográfica de quem as viu/sentiu? :)




Contente por esta nova porta :) com esta nova porta :)

ze disse...

Olá Arábica,

É um grande prazer ver-te por cá, e nutro a esperança que se venha a repetir muitas vezes.
Eu por mim tentarei fazer a minha parte, que será "postar" também muitas vezes.
Vamos lá ver se consigo.

Para já este "espaço" só tem um começo (editado) e um pré- começo traduzido pela desinibição alcançada em apenas duas semanas de troca de palavras e ideias noutro espaço- "Em pequenas doses".

Apesar do começo, não conheço ainda o caminho, a não ser que tal para existir sem se finar prematuramente, necessitará de outros para se alimentar e assim poder continuar.
Ou seja, não sei por onde vou, mas vou tentando saber por onde não hei de ir.

Não quero nem pretendo perder-me em rodopios em torno de mim. Talvez só o necessário.
Preciso pois de temas, assuntos, estímulos, afrontas que sejam, mas em todo o caso, preciso de ler e responder nestas caixas de comentários (e noutras), para que se despolete mais escrita de "post".
Obrigado nesse sentido também por teres inaugurado a dita "caixa".

Em relação ao teu comentário, fica-me uma certa sensação de "dejá vu" feliz por mais um vez ter escrito algo que veio a ficar associado a outro algo que outro (tu) escreveu e que decididamente tem valor.
Há decididamente coisas cujo nascimento vale a pena, mais que não seja, pelo que desencadeiam.
Sem modéstias muito menos falsas, assumidamente não tenho a mesma capacidade de avaliação de mim que tenho dos outros.

Aparece SEMPRE e trás os amigos(as) :)

Amélia disse...

sôr zé, parabéns! já tem perninhas para andar!

e que bem que anda!

dos momentos efémeros que são captados pela objectiva, melhor dizendo, por quem está por trás da dita, tenho dois personagens em grande respeito e estima.
um pela sua magnifica e perturbadora visão da miséria humana, de seu nome sebastião salgado(e que me perdoem os restantes que também o fazem, mas eu sou inculta...). um profissional que sabe o que está a fazer, com uma mensagem bem elaborada para transmitir: "isto está a passar-se debaixo dos nossos olhos! isto não é vida! algo tem de mudar!"

pelo outro personagem, fica a minha admiração pela sua capacidade em captar momentos inigualáveis na sua infantilidade de sete anos! uma pequena menina agarrada a uma reles câmara digital, percorre espaços, vê pessoas, observa bolos e rebuçados, quadros e molduras com fotos de avós, jarras e flores, e de uma forma (quase...) ingénua, faz verdadeiros milagres de cada vez que prime aquele botão!
aqui, naquelas imagens, nada tem de mudar: -exorta a vida, a cor, a beleza que ela consegue encontrar nos objectos do nosso quotidiano, a alegria dos rostos que ela procura e encontra.
o seu nome não é para aqui chamado...

abraços anárquicos!

Amélia disse...

ah!!! e agora me aperçebo! "moderação de comentários"? ó sôr zé, deixe-se disso! moderar o quê se vossa excelência não é moderada???

Arábica disse...

Zé :)


O modelo já tu mudaste :)

Para corrigir, guardar em rascunhos, enfim, para voltares ao post anterior, escolhes editar mensagens e quando os "posts" aparecerem no ecran, clicas sobre o "editar" do post/mensagem em causa.


Este comentário não precisa de aparecer :) claro!

Arábica disse...

Já agora: este texto, que foi teu primeiro post, foi escrito por ti?

ze disse...

Ó Amélia,

Deixa-te lá de senhores ou sôrs se fazes favor, que somos quase família.
Se não daqui a um bocado e sem dar por isso, começo também a tratar-te por você e por senhora e isso vai-me chatear pelo menos no momento de voltar a ler o que escrevi.

Pois tens a cultura suficiente para conheceres o Sebastião Salgado que é mais do que eu me lembro, apesar da familiaridade do nome.
E vou para o google ver então o que é que o homem vê.
Já em relação à menina- prodígio-fotografa vais ter que ser tu, mamã-babada, a mostrar-me esse portfólio. Não te esqueças.

A moderação de comentários estava activada por engano.

Aparece mais vezes, rapariga!

ze disse...

Em troca posso-te mostrar as fotografias da minha sobrinha Leonor que vai fazer cinco anos.
Pois é, de pequenino é bem mais fácil começar a torcer o pepino.
Há que estimular e experimentar interesses e capacidades.

ze disse...

Arábica,

Pois andei hoje a experimentar todos os modelos que para lá havia pré-definidos, coisa que não tinha feito inicialmente.
Tinha escolhido aquele fundo preto (estupidamente), que me parece dificultar muito a funcionalidade da leitura. As letras pareciam-me pequenas, mas depois de andar a comparar com outros blogues, percebi que o problema não era esse.
O que me dificultou mais no fundo preto foi o facto da pré-visualização da mensagem me aparecer em negativo do resultado final, que assim me surgiu (ainda para mais sem conseguir alterar) uma algo desagradável surpresa.
Ainda para mais querendo compor um efeito gráfico, no caso do primeiro post, e no caso do segundo tinha a intenção (que ficou a meio) de escolher uma tonalidade de cor ligeiramente diferente para distinguir o “discurso directo” do discurso do orador.
Enfim, o mais provável é que nos próximos tempos vá experimentando outros visuais e definições até me agradar consistentemente alguma.

Para corrigir ainda não voltei a tentar, mas espero conseguir agora. Obrigado pela ajuda.

Mantive o comentário porque a intenção inicial já era não moderar.

Sim, foi escrito por mim.
Se vier a usar algum texto (ou foto) que não seja da minha autoria, vou sempre anexar o nome correspondente.
Escrevi-o uma semana antes de criar o blogue, numa tarde que saí de casa numa tempestade de pensamentos pouco habitual, no sentido da sua forma. Era de quem estava a querer comunicar com outros e não comigo.
Como tinha caderno e esferográfica, entrei num café sossegado, com música e permissão para fumar, sentei-me, pedi uma cerveja e escrevi aquele texto de rajada.
E ainda desenhei esboços para outros.
Sem ter ideia de o fazer tão cedo, já me andava a preparar para o blogue.
Tentava descobrir que tipo de abordagem a este ambiente é que seria a mais adequada para mim.
E estava por isso a testar a possibilidade de elaborar uma sequência de “pequenas artes”, expondo um olhar pessoal sobre aspectos do quotidiano da nossa sociedade.
Não sei bem, parece-me que demasiado ambicioso, mas este não me desiludiu na altura.
Quando estava a transpô-lo para o blogue, pareceu-me muito carregado, muito reforçadas e torcidas as palavras, pelo que apeteceu-me passar a negrito aquela repetição de prefixos (des; im;...) e de opção de negativo em vez de antónimo.
Mas como escrevi o texto no win-word, o copy paste correu muito mal e as letras ficaram assim com tamanhos diferentes. Então, tentei controlar e jogar também com isso, como se fosse uma entoação de leitura, mas tive a tal surpresa da passagem do pré-visualizar para o editado.

Boa noite ou bom dia, beijinhos e não te esqueças de continuar a aparecer!

ze disse...

Haveria muito mais a corrigir, mas desconfio que aqui é que não dá mesmo.
Fica escrito, sem possibilidade de corrector ou borracha.
No entanto pelo menos desta terei que fazer a "errata":
"discurso do narrador" e não "discurso do orador".

O post seguinte procura precisamente descrever esse processo em que me encontro de não deixar travar muito o desenvolvimento de um pensamento, apenas por não ter encontrado uma determinada palavra certa.

Se uma máquina existir para fabrico de um produto e uma peça falhar, hoje em dia, substituo a peça com o pragmatismo de quem quer é o produto.
Nem sempre fui assim.

Arábica disse...

Perguntei porque também me pareceu escrito de rajada, vindo assim de um sitio qualquer de onde só saem palavras muito vividas pelo lado de dentro, isto é, que já estão amadurecidas, muito antes da parte racional saber (um pouco como a minha resposta ao teu primeiro comentario no doses).

É um texto triunfal para primeiro post :)


E habitua-te a andar de caderno e caneta :) quantas vezes já voltei para casa porque não o tinha e tinha que escrever! :)

Outras tantas comprei cadernos :)


E outras tantas no momento final, mesmo naquele instante "red-line" a palavra certa saltou para o papel repentinamente :)

ze disse...

tudo vivido